Violência doméstica aumenta no confinamento do coronavírus e também afeta brasileiras no visto de 'partner'

Community groups concerned as domestic violence calls drop off

Services say the lockdown measures are placing women at increased risk. Source: Press Association

Get the SBS Audio app

Other ways to listen

Conversamos com a agente de imigração Lola Matheus, que no momento está em contato com brasileiras sob coerção do parceiro na Austrália. Ela lembra que violência doméstica é crime na Austrália e que violência psicológica também dá direito à proteção.


A violência doméstica aumentou na Austrália durante o confinamento causado pelo coronavírus.

E essa é uma realidade entre muitas brasileiras que estão no país, vivendo sob o mesmo teto com um parceiro, através do visto de "partner". 

Conversamos com Lola Matheus, agente de imigração, formada em Migration Law pela ANU/Australian National University e que mora há 35 anos na Austrália.

Ela já foi professora e coordenadora junto ao Instituto de Línguas da Universidade de New South Wales.

Lola Matheus está agora em contato com várias brasileiras com problemas de violência doméstica na Austrália.

Nesta entrevista, ela relata que casos de agressão física acontecem e relembra que abuso psicológico também está enquadrado no Family Act do país, o que permite auxílios do governo.

Se você passa por este tipo de situação, há canais de ajuda para superá-la. 

Leia a seguir a íntegra da entrevista com Lola Matheus.
SBS Portuguese coronavirus
Source: SBS
SBS: Lola, você está acompanhando os casos de violência doméstica entre brasileiros na Austrália. Você tem sabido de casos?

LOLA: Então, houve um aumento muito grande devido ao isolamento. Mesmo na Austrália toda, eles dizem que houve um aumento de 40%. E nas últimas semanas, várias meninas brasileiras começaram a me contatar, que se encontram em situações de violência doméstica.

SBS: O que você ficou sabendo?

LOLA: Várias dessas meninas vieram pra cá com o visto de estudante. O que acontece é que agentes de imigração vendem o sonho de vir pra cá, mas ninguém avisa os estudantes que, na verdade, eles podem trabalhar só 20 horas por semana, que é um dinheiro não suficiente para viver num país como a Austrália.

É um grupo bem vulnerável. A gente pode perceber que estas meninas vêm pra cá com este visto de estudante e descobrem que, quando encontram um namorado australiano, que é possível pedir o visto de partner, com o patrocínio do parceiro. Um dos requerimentos do visto é que a pessoa viva com o seu companheiro.

Então elas mudam rapidamente, passam a viver com os parceiros, e muitos deles que já percebi conversando com essas meninas, já têm um histórico de violência doméstica, com casos na corte, etc. Então elas ficam dependentes do parceiro, e como existe muito abuso emocional e psicológico, é muito comum elas me contarem que estão em uma situação que o parceiro a fica coagindo, ameaçando de jogá-las na rua neste momento.

E elas se submetem a este tratamento com medo de perderem o visto, porque o visto é do parceiro, evidentemente.

SBS: A violência doméstica tem várias formas. Você ficou sabendo de casos onde haja agressão física?

LOLA: Existem casos muito sérios de agressão física, onde a polícia esteve no local e a pessoa foi internada no hospital, e a pessoa no momento se encontra sob a proteção da polícia. Existem alguns casos.

E existem os casos do abuso emocional, que é tão ruim quanto, considerado pela lei de imigração um crime também.

SBS: ...a as pessoas não sabem disso.

LOLA: As pessoas não sabem. Inclusive essas meninas, quando vêm falar comigo, falam "mas não tem violência física". Pois é, mas existe um abuso psicológico emocional que é reconhecido pelo Family Act, de 1965, que pode se manifestar pela forma, por exemplo, de isolamento da pessoa da família e dos amigos, coerção, relações sexuais forçadas, comentários maldosos como colocar pessoa pra baixo, críticas física ou sobre a inteligência da pessoa, ou mesmo cultural.

E tem o controle financeiro - há meninas que trabalham e o salário vai direto pra conta do parceiro. Ela não tem esse dinheiro na mão, o que facilitaria sair desse relacionamento.

SBS: Qual seria a principal mensagem para quem esteja sofrendo violência doméstica?

LOLA: A mensagem principal é que existem disposições legais dentro da lei de imigração, pela Migration Regulations, que permitem a essas pessoas com vistos temporários de partners que continuem no visto, mesmo se o relacionamento se deteriorar, ou se o relacionamento terminar devido a uma situação de violência doméstica.

SBS: Mesmo com a separação, elas não perdem o visto de partner.

LOLA: Isso se entrarmos com recurso dentro do departamento de Home Affairs. Os primeiros passos são reunir evidências para entrar com o recurso para manter essa pessoa no visto de partner. Essas evidências são adquiridas com psicólogos, elas precisam fazer consultas, (também) com assistência social, ligar para vários orgãos do governo para saber quais são os tipos de acompanhamento que eles podem dar.

Por exemplo, oferecer acomodação para a pessoa poder sair de casa. E os relatórios que vamos precisar do psicólogo ou do assistente social. Pode ser até a professora do filho, que está ciente do caso de violência doméstica, ou mesmo textos que o parceiro tenha enviado com ameaças. Tudo isso são evidências que a gente pode apresentar ao departamento para que o visto continue.
SBS Portuguese
Lola Matheus, agente de imigração em Sydney Source: Supplied
SBS: A língua pode ser uma barreira?

LOLA: Uma coisa que eu identifiquei ao começar a navegar por este sistema é que existem vários orgãos que dão assistência para casos de violência doméstica, mas também existe uma lacuna para atendimento específico a imigrantes, mulheres e homens, para ajudar estas pessoas de uma maneira mais específica.

Esses orgãos que cuidam de violência doméstica providenciam intérpretes.

SBS. Você pode ligar para o 131450 e pedir um intérprete em português, e falar com qualquer organização.

LOLA. Exato. O problema que existe é que, quando estas imigrantes passam por uma situação de violência doméstica, elas estão fragilizadas, com medo. Para conseguir entrar e acessar esses serviços, é necessário que exista um orgão com suporte específico para imigrantes nesta situação."

Fim da entrevista

Existem vários serviços disponíveis para pessoas que estejam sofrendo violência em casa.

Lifeline Australia – 13 11 14 1800 respect – 1800 737 732 Relationships Australia – 1300 364 277 Mensline – 1300 78 99 78 Kids Helpline – 1800 550 1800 Safe Steps – 1800 015 188




 
As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros. Confira os limites no seu estado ou território para o número máximo de pessoas em encontros e reuniões.
 
Os testes para o coronavírus estão agora amplamente disponíveis em toda a Austrália.
Se você  tem sintomas de resfriado ou de gripe, organize um teste ligando para o seu médico ou para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.

O App COVIDSafe do governo federal, para rastrear o coronavírus, está disponível para baixar na 'app store' do seu telefone.

A SBS traz as últimas informações sobre o COVID-19 para as diversas comunidades na Austrália.

Notícias e informações estão disponíveis em 63 línguas no 



Siga-nos no  e 
spotify_2.png
google_podcast_2.png
apple_podcasts_2.png



Share