Silêncio, que se vai cantar o fado

Ricardo da Silva e Sónia de Freitas (esq.) e o grupo ALMA com Mandy Vieira no violino, Jeremy Sawkins na guitarra e Mervyn Sequeira no contrabaixo (direita)

Ricardo da Silva e Sónia de Freitas (esq.) e o grupo ALMA com Mandy Vieira no violino, Jeremy Sawkins na guitarra e Mervyn Sequeira no contrabaixo (direita) Source: SBS em Português/Carla Guedes

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Other ways to listen

Fez-se silêncio na Peach Black Gallery para se cantar o fado pela voz, piano e violino dos três artistas portugueses Mandie Vieira, Ricardo da Silva e Sónia de Freitas. A música ao vivo regressou a esta galeria de arte de Sydney, no passado sábado dia 18 de junho, no âmbito do festival The Winter Collective, no qual todos os invernos são celebradas a pintura e a música, em conjunto, de uma forma particularmente intimista. Desta vez, a pequena sala encheu e toda a gente se sentiu ´abraçada´ não só pelas obras de arte do pintor italiano, nomeado para vários prémios, Matteo Bernasconi, mas acima de tudo pelos sons da música portuguesa. E, entre uma canção e outra, os três artistas conversaram com a SBS em Português sobre música, fado, cultura, Portugal, orgulho, saudade e sentimento de pertença.


Este fim de semana foi tempo de se escutarem os sons do “Fado Novo” que mistura estilos tradicionais e contemporâneos interpretados por dois conjuntos de Sydney muito importantes para a comunidade portuguesa, na do artista italiano .
Os anfitriões desta noite de fado, a australiana Anna Griffiths e o seu companheiro, e pintor italiano, Matteo Bernasconi
Os anfitriões e organizadores desta noite de fado, a australiana Anna Griffiths e o seu companheiro, e pintor italiano, Matteo Bernasconi Source: SBS em Português/Carla Guedes
Foram eles os , pela voz e violino de Mandie Vieira (australiana, filha de pais portugueses da ilha da Madeira e co-fundadora da banda), apoiada por um grupo de músicos multicultural: a viola foi dedilhada por um australiano, Jeremy Sawkins, e o contrabaixo embalado por um goês, Mervyn Sequeira.

Loretta Palmeiro é a outra co-fundadora dos Alma Orquestra e contribui com o seu saxofone, clarinete e flauta. Esta australiana luso-descendente não pode estar presente neste evento mas o seu nome foi recordado do princípio ao fim do concerto.
Já a dupla de Fado foi constituída por Ricardo da Silva (original de Águeda, Portugal) na voz, e Sónia de Freitas (nascida e criada na África do Sul, filha de pais portugueses também da Madeira) que o acompanhou ao piano.

As duas bandas de inspiração puramente portuguesa, mas também com sons de África e do Brasil, numa fusão de música clássica e tradicional portuguesa, infundida com elementos de jazz, bossa nova e pop, deixaram toda a plateia a cantarolar e a acompanhar com palmas.
Acima de tudo, os músicos, trouxeram, literalmente, Portugal para dentro desta galeria australiana.

E emocionaram não só os australianos presentes, que iam abanando o pé encantados enquanto bebiam o seu vinho, mas principalmente os familiares de alguns dos músicos que estavam duplamente orgulhosos dos cantores e instrumentistas “do seu sangue” mas também da sua cultura, música e língua.
Hoje, tenho aqui os meus pais, marido e dois filhos, os quais sei que se sentem muito orgulhosos por me verem dar continuidade à cultura portuguesa, mesmo eu tendo nascido na Austrália
, disse Mandie Vieira que é uma fadista e cantora de jazz sobejamente conhecida pela comunidade portuguesa em Sydney, que se estreou na Opera House apenas com quatro anos de idade.

Hoje em dia, Mandie canta em muitos dos eventos culturais mais importantes realizados no seio da comunidade portuguesa, com bandas e músicos variados nomeadamente o guitarrista e também cantor Tony Latino.
Também a luso-descendente Sónia de Freitas, nascida em África do Sul e com pais madeirenses, que acumula a sua carreira de músico com a de responsável pelos programas educativos e culturais da Orquestra de Sydney, diz que se há coisa que transporta consigo e na sua música é a “sua Portugalidade”:
Nasci em África do Sul onde acabei por passar também grande parte da minha infância com os meus pais, orgulhosos madeirenses, que sempre se preocuparam em que vivêssemos a nossa cultura através da música, da língua, da gastronomia e, acima de tudo, dos princípios familiares e de conduta que não saem de nós e nos acompanham para onde quer que vamos.
O duo Ricardo da Silva, fadista, e Sónia de Freitas, pianista
O dupla de músicos, o português Ricardo da Silva, fadista, e Sónia de Freitas, a pianista sul africana e luso-descendente Source: SBS em Português/Carla Guedes
Já o fadista, Ricardo da Silva, que só chegou a Sydney, vindo de Águeda, Portugal, em setembro de 2004, sente que dá hoje mais valor ao fado e à cultura portuguesa do que algum dia deu, antes de ser emigrante:

"A arte corre na minha família há três gerações: o meu avô dedicava-se ao circo, o meu pai cantava, o meu irmão vive exclusivamente da música e eu, só agora na Austrália, é que estou a viver o meu sonho, particularmente o fado que eu sempre adorei. Mas eu não ouvia muito o fado com os meus amigos em Portugal, durante a adolescência, já que Águeda nem sequer tem uma grande tradição fadista".

Quando emigrou, Ricardo, só vinha à procura de uma oportunidade de trabalho na construção civil. Mal sabia ele que seria a trabalhar na área da restauração, mal cá chegou, que o fado entrou na sua vida:
Foi a servir às mesas no restaurante português onde trabalhei quando cá cheguei, que acabei por conhecer um casal português ligado à rádio que me convidou a cantar um fadinho e assim comecei a levar este sonho mais à séria.
A Peach Black Gallery, em Sydney, cheia para ouvir o fado
A Peach Black Gallery, em Sydney, cheia para ouvir o fado Source: SBS em Português/Carla Guedes
Hoje, tanto o Ricardo como a Mandie e a Sónia têm vários projetos musicais de fado e fusão diferentes, nuns tocam juntos como aconteceu nesta noite, noutros compõe, tocam e cantam em registos musicais variados, mas onde procuram sempre cultivar a cultura portuguesa.

Os três artistas portugueses são felizes a animar a comunidade portuguesa na Austrália.

Só durante o confinamento da Covid-19 é que tudo ficou complicado para qualquer um dos três, com concertos cancelados, adiados e até alguns onde acabaram por acabar a noite a contrair o vírus, como nos contou Ricardo:

“Durante a pandemia, nem tudo tem sido fácil. E só agora é que começamos a ter concertos outra vez. Foi complicado e posso até dizer que apanhei Covid no âmbito de um concerto que dei para a comunidade portuguesa. Dias depois percebi que não fui só eu. Várias pessoas que estiveram presentes ficaram doente. Mas isto está a melhorar!”
Mandie Vieira com a sua maior fã, a sua mãe, Rosária Vieira, que depois de mais de quatro décadas de Austrália, não podia estar mais orgulhosa da música portuguesa da sua filha
Mandie Vieira com a sua maior fã, a sua mãe, Rosária Vieira, que depois de mais de quatro décadas de Austrália, não podia ser madeirense mais orgulhosa Source: SBS em Português/Carla Guedes
Para ouvir um pouco da música dos três artistas e das suas bandas, bem como escutar a entrevista que eles deram à SBS em Português, clique no “play” sobre a imagem que abre este artigo.

Para se manter informado acerca dos próximos espetáculos de fado em Sydney, aceda à página de FB – .

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