Miguel Rodrigues: "Depois de fazer a Austrália de mota, ainda me falta a Ásia"

Miguel Rodrigues, em Uluru, a explorar o deserto na sua mota

Miguel Rodrigues, em Uluru, a explorar o deserto na sua mota Source: Sourced/Miguel Rodrigues

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Miguel Rodrigues vive no Porto mas, neste momento, é turista na Austrália. Está sozinho, ao volante da sua Honda Africa Twin Adventure 1100, a desbravar este país imenso. A apenas dez dias de concluir a sua viagem de mota, a qual chamou “Austrália 360º” e que dedica a um dos seus heróis - o navegador português Cristovão de Mendonça, Miguel não podia estar mais feliz por ter tido a coragem de ter levado este plano adiante. O objectivo é fazer aproximadamente 16.000 kms em 50 dias, numa grande aventura que também inclui visitar a diáspora portuguesa em Melbourne, Sydney e Perth. Diz o Miguel que está a adorar, embora já tenha sentido medo também.


A esposa e as duas filhas de Miguel Rodrigues ficaram em Portugal. A esposa já se aventurou com ele de mota no passado mas, diz Miguel, “desde que foi mãe, ganhou um medo natural e deixou de ser motard”.

Agora, Miguel tende a viajar com um ou dois amigos. Mas para a Austrália veio sozinho. Só em Perth é que partilhou uma parte do trajeto com um amigo português. De resto, tem andado por todo o lado, a usufruir do que mais lhe tem agradado na Austrália:
Estou a descobrir um país cheio de contrastes, muito diverso, com um povo simpático, que sabe receber, que é desempoeirado. Os australianos sabem viver a vida e fazem por isso.
Sempre com um conceito de ´Portugalidade´ que imprime em todas as suas aventuras de mota pelo mundo, Miguel veio, desta vez, celebrar e homenagear os feitos de um dos seus heróis portugueses:
Esta viagem é um tributo ao navegador português Cristóvão de Mendonça, a quem é atribuída a descoberta da Austrália, 250 anos antes do Capitão Cook cá chegar
Anteriormente, já se tinha aventurado por três outros continentes.
Miguel Rodrigues, junto a uma das muitas praias australianas que tem conhecido durante a sua aventura de mota
Miguel Rodrigues, junto a uma das muitas praias australianas que tem conhecido durante a sua aventura de mota Source: Sourced/Miguel Rodrigues
Animado pelos navegadores portugueses que, segundo Miguel, “sempre querem transformar os cabos das Tormentas em Boa Esperança”, em 2008 foi a África para realizar a primeira viagem motard pós-guerra civil em Angola, num trajeto de 8,000 km por Luanda, Windhoek, Pretória e Maputo.

Um ano mais tarde, foi para a América do Norte, numa expedição de 1,200 km, em mota de neve no Quebec.

Em 2017, aventurou-se pela Europa, numa viagem de mota a que ele chamou “Expedição Fuga a Leste”, num percurso de 7.000 km até à Rússia, com regresso a Portugal pelos últimos países que aderiram à EU (Estónia, Letónia e Lituânia).

Já em 2020, nas vésperas da pandemia, arrancou diretamente para a América do Sul para mais 8.500 km – a expedição “Victoria 500”, onde celebrou o quinto centenário da circum-navegação de Fernão de Magalhães, unindo Puna Arenas (Chile) a Puerto de San Julian (Argentina).
Miguel Rodrigues, num momento de pausa, algures na sua viagem pela Austrália
Miguel Rodrigues, num momento de pausa, algures na sua viagem pela Austrália Source: Sourced/Miguel Rodrigues
Desta vez, está então em território Aussie onde confessa estar verdadeiramente espantado com a “beleza e diversidade” da paisagem.

Mas também tem sentido medo, principalmente de conduzir em estradas onde se tem cruzado com muitos animais mortos que representam um perigo considerável para quem viaja de mota.
Já vi mais cangurus mortos do que vivos, ao longo da minha viagem.
O que também saiu fora do seu plano, foi o facto de “tudo na Austrália ser consideravelmente mais caro do que na Europa, principalmente para um português”, diz Miguel.

Além disso, o facto da vida na Austrália funcionar “só enquanto há sol” e de nas zonas mais remotas do país as localidades estarem, às vezes, a mais de 200kms umas das outras, também obrigou o Miguel a gerir alguns contratempos conforme eles foram surgindo:
Numa determinada parte do meu trajeto, e muito devido às distâncias imensas entre localidades (algo inesperado para mim, mesmo tendo estudado bem o mapa rodoviário em preparação para a viagem), dei por mim com dificuldade em encontrar um quarto num hotel e um restaurante aberto para comer.
Outra coisa que também deixou o motard portuense apreensivo foi, naturalmente, a quantidade de animais perigosos por toda a Austrália e as restrições que a presença destes exige:
Aproximamo-nos da água, não podemos molhar o pé porque há crocodilos. Damos um mergulho no mar, há tubarões... Não é fácil mas é muito interessante.
No geral, esta está a ser uma viagem verdadeiramente única e da qual o Miguel nunca se esquecerá. Tal como também não esquecerá jamais a forma calorosa como foi recebido pela comunidade portuguesa e até as opiniões que recolheu da nossa gente por aqui:
Foi curioso não ter ouvido um único português dizer que está infeliz aqui ou que deseja voltar a Portugal. Isso só quer dizer que a Austrália recebe bem e oferece uma vida boa e um futuro.
Resumindo, Miguel regressará ao Porto ainda este mês, se tudo correr segundo o planeado, e levará consigo esta “Austrália imensa”, na certeza de que ainda lhe falta um continente, a Ásia, o qual quer palmilhar de mota antes de fazer 60 anos:
As motas são parte do meu esqueleto. E fica aqui uma promessa pública: enquanto eu não tiver netos vou fazendo viagens pelos cinco continentes.
A equipa da SBS em português deseja ao Miguel uma reta final de viagem pela Austrália tranquila e segura, e que Adelaide – a única grande cidade australiana que ainda tem pela frente – corresponda às suas expectativas.
Miguel Rodrigues, num dos muitos percursos curiosos que foi encontrando pelo caminho
Miguel Rodrigues, num dos muitos percursos curiosos que foi encontrando pelo caminho Source: Sourced/Miguel Rodrigues
Para saber todos os pormenores desta grande aventura de Miguel Rodrigues, ouça a entrevista completa clicando no ´play´sobre a imagem que abre este artigo.

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