Ramos Horta considera a língua portuguesa a crescer em Timor; vê país na ASEAN em dois anos

Former Timor-Leste president Jose Ramos-Horta says too much Australian aid is wasted on consultants.

Source: SBS News

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“O tétum falado em Timor está em constante evolução e a absorver muitas expressões da língua portuguesa. Fora de normas académicas, o tétum expande-se em modo que incorpora muitos vocábulos portugueses” – quem diz isto é o Nobel da Paz e ex-presidente da República Democrática de Timor Leste, José Ramos Horta, numa ampla entrevista publicada no jornal português Diário de Notícias, no dia seguinte a Ramos Horta ter celebrado 72 anos de idade.


Na entrevista, conduzida por Leonídio Paulo Ferreira, editor de internacional neste centenário jornal português, Ramos Horta defende que a língua portuguesa tem espaço, e futuro em Timor Leste - e explica: em 1975, último ano de Timor Leste como território colonial português, seriam 10%, se tanto, os timorenses que falavam português.

Seguiram-se 24 anos de ocupação indonésia e, no ano 2002, o ano da independência, talvez 1% da população timorense falasse português.

Hoje, 20 anos depois, Ramos Horta pensa que mais de 40% da população timorense entende o português. Não falam bem, mas, apesar de com timidez, podem expressar-se em português.

É aqui que Ramos Horta entronca o desenvolvimento do tétum, nestes últimos 20 anos, com muito vocábulo português.

O Nobel Ramos Horta explica que a identidade timorense passa pelo catolicismo. Argumenta mesmo que não há outro país no mundo, nem, Polónia, nem Filipinas com tão alta percentagem de população católica – 98% em Timor.

O catolicismo e a língua tétum são, para Ramos Horta, os principais elementos definidores da identidade timorense.

Nesta entrevista Ramos Horta faz questão de destacar que Timor é hoje um Estado auto-suficiente. Explica que com o rendimento do petróleo, do gás – com o que está no Fundo Soberano – Timor-Leste já tem meios próprios para financiar o seu Orçamento de Estado.

Nesta entrevista ao DN, Ramos Horta elogia os principais parceiros de Timor: Austrália, Indonésia e Portugal.

Sobre a Austrália, Ramos Horta elogia a forma como, ”depois de uma fase de conflito que tem a ver com a fronteira marítima e a posse ou não do petróleo e do gás, a Austrália tomou boa atitude”. Aqui, Ramos Horta elogia a postura do povo australiano nesta questão.

Mas o grande elogio vai para Xanana Gusmão.

Cito Ramos Horta: Xanana nunca concordou com o primeiro tratado que Timor assinou com a Austrália. Xanana, diz Ramos Horta, “revelou aí a sua visão magistral”.
O Xanana é espetacular, eu admiro-o imenso, ele acredita em algo, fica obcecado, obcecado entre aspas, e não larga. E estuda o processo. Ele nunca concordou com o primeiro tratado que nós assinámos com a Austrália. O primeiro tratado não reconheceu a reivindicação australiana da fronteira marítima.
Mari Alkatiri foi duro também nesse aspeto. Negociou foi uma partilha dos recursos do petróleo, em que Timor acabou por ter mais de 90% do que a Austrália. Mas ficou sem definir a fronteira marítima, a linha mediana.

Xanana, então presidente, ratificou, promulgou, mas contra vontade. Ele fez porque achou que deveria fazer, naquele momento, mas quando se apanhou como primeiro-ministro, e houve uma oportunidade, ele questionou, mobilizou uma equipa internacional e ganhámos a causa.”

“A Austrália recuou. O que revela também o sentido de um país democrático. Porque a opinião pública australiana esteve, conclui Ramos Horta, do nosso lado.” Isto o que Ramos Horta diz nesta entrevista sobre a relação entre Timor e a Austrália.

Sobre o papel da Indonésia na relação com Timor república independente, diz Ramos Horta que “A Indonésia portou-se de forma impecável. Mostrou ser um país com uma longa civilização, de gente consciente da história, das suas responsabilidades no mundo”.

Horta elogia o facto de a Indonésia ter recusado sabotar o desenvolvimento da independência de Timor. 

Sobre Portugal, grandes elogios de Ramos Horta nesta entrevista:

“Portugal é dos poucos países parceiros de Timor-Leste, amigos de Timor-Leste que nunca negou, regateou o apoio direto ao Orçamento Geral do Estado timorense. Portugal entendia muito bem que um país como Timor-Leste, para o Estado se estabilizar e o governo se estabilizar, tinha de ter apoio no seu Orçamento."

Ramos Horta acrescenta que “Portugal aparece como o país que quando aloca dinheiro a um país mais dinheiro chega ao destino final. Há sempre despesas que obrigam parte do dinheiro a voltar a Portugal ou a outros doadores, através dos consultores, dos técnicos e da compra de equipamento, talvez. Mas Portugal é o país com mais percentagem de dinheiro que fica no país que recebe”.

Nesta extensa entrevista, Ramos Horta define que Austrália e Indonésia são prioridades na política externa timorense – por serem os países vizinhos.

Mas o grande objetivo para Timor é, diz Ramos Horta, a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático): “a adesão à ASEAN é prioridade absoluta. Estamos no bom caminho. Talvez daqui a dois anos, no máximo, aderimos à ASEAN. Logo a seguir, nas prioridades de política externa vêm China, Japão e Coreia do Sul. Esta é – diz Ramos Horta - a nossa zona estratégica prioritária. Mas sem menosprezar, pelo contrário, continuar a incentivar as relações com Portugal e a União Europeia.

Horta lastima a falta de relevância da CPLP:
Infelizmente, a CPLP ainda é um mistério e desinteresse para uma esmagadora maioria dos povos dos países constituintes da CPLP
Uma referência final nesta entrevista à boa segurança: diz Ramos Horta que ”Timor é dos mais pacíficos em todo o Sudeste Asiático, só se comparando com Singapura em termos de ausência de criminalidade violenta”.





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