A esquerda continua à frente na cordial campanha eleitoral portuguesa

António Costa, líder do governo português

António Costa, líder do governo português Source: Bernd von Jutrczenka/dpa

Get the SBS Audio app

Other ways to listen

Confira na crônica desta semana do correspondente do Programa Português da Rádio SBS em Lisboa, Francisco Sena Santos.


Faltam duas semanas para as eleições gerais em Portugal e a tendência é a de continuação de governo do Partido Socialista, embora provavelmente com base mais instável, isto porque o líder socialista e primeiro-ministro António Costa assume o divórcio com a esquerda mais à esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista) que sustentou o governo nos últimos seis anos, mas que em novembro subiu as exigências de investimento público e levou a estas eleições antecipadas.

Os três principais institutos de sondagens, a duas semanas das eleições, convergem nas tendências:


  • Para o Partido Socialista, liderado por António Costa, 38 a 39% das intenções de voto (é um valor que tem permanecido constante nos últimos anos) e 9 pontos percentuais de avanço sobre o partido rival à direita, o PSD.

  • Este (PSD), surge com 30%. É um somatório que a acontecer melhora os 28% das eleições de há dois anos, mas é uma baixa nas expectativas que já chegaram aos 32%.     
As sondagens mostram de novo bipolarização da vida política portuguesa com estes dois partidos centrais a representarem mais de 70% do voto.


Há luta cerrada entre 3 partidos pelo 3º lugar nestas eleições com intenções de voto à volta dos 5 a 6%:


  • São o Bloco de Esquerda (que tinha quase 10% e cai para os 6%), o Partido Comunista (cai de 7,5 para 5 a 6%) e o partido Chega, de direita-extrema que sobe de 3 para 5 a 6%.

Os analistas políticos notam que Bloco de Esquerda e PCP são penalizados por terem provocado a crise política ao retirar apoio ao Orçamento do governo PS.


O partido Chega, até aqui muito unipessoal liderado pelo populista André Ventura, com vigoroso discurso contra o sistema político português, chegou a atingir 10% nas sondagens, mas agora cai para à volta dos 6%.


Parece funcionar nestas eleições a tendência para voto útil: a esquerda vota PS e a direita vota PSD.


As sondagens mostram que a esquerda em Portugal continua a ter maior peso eleitoral que a direita.


Há outras novidades nas sondagens:


  • Crescem dois partidos mais recentes: o Iniciativa Liberal (no centro-direita) e o Livre (centro-esquerda), ambos entre os 2 e os 4%. Os liberais mais perto dos 4% e o Livre mais nos 2%

Outro facto é o eclipse de um partido fundador da democracia em Portugal: o CDS-PP, que foi liderado por políticos como Freitas do Amaral e Paulo Portas, fica agora por 1 a 2% e pode nem eleger deputados. É a consequência de querelas internas, com o voto CDS a escapar para o PSD ou a Iniciativa liberal.


Um dos principais institutos de sondagem, o mais antigo e mais de referência, é o da Universidade Católica. Na sondagem que faz, traduz as percentagens em número de deputados.


Com base nesta sondagem da Católica para a RTP e o jornal Público, para um parlamento em que a maioria absoluta é alcançada com 116 deputados, o Partido Socialista tem prometidos 104 a 113 deputados, portanto, neste caso ficaria a três lugares da maioria absoluta no Parlamento, podendo reunir apoio com o Partido (centrista-ecologista) dos Animais e da Natureza (PAN) e o com Livre (esquerda moderada). E mesmo no cenário dos 104 deputados continua o cenário de maioria de esquerda, com o BE, CDU, Livre e PAN.


 
Até aqui, Portugal tem sido governado pelo PS apoiado pela esquerda mais à esquerda.


A partir destas eleições, uma possibilidade é de governo do PS com apoio do PAN e do Livre.


Não é de excluir alguma negociação com o PSD.


O que já não parece possível é uma reviravolta que faça do PSD partido maioritário. Nenhum estudo de opinião aponta nesse sentido, nada sugere, até agora, viragem de tendências.



Share